“É necessário continuar construindo os Dilemas da Humanidade com otimismo e propostas sérias”

En el día de cierre de la IV Conferencia Dilemas de La Humanidad, a modo de conclusión del debate, participaron de la mesa João Pedro Stedile y Juliane Furno. Foto: Priscila Ramos
No encerramento da IV Conferência Dilemas da Humanidade, participaram da mesa João Pedro Stedile, economista, fundador e membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e Juliane Furno, professora da Faculdade de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisadora do Instituto Tricontinental e militante do Movimento Brasil Popular. As falas finais de ambos os dirigentes giraram em torno da continuidade da construção coletiva iniciada nos painéis da Conferência.
É preciso seguir construindo o processo Dilemas da Humanidade com otimismo e propostas sérias, já que é fundamental manter esses espaços de integração em diferentes regiões do mundo. “Vamos reunir todas as exposições para utilizar em outros espaços. O SESC Pompeia funcionou como um espaço de abastecimento, mas agora cabe a nós levar essas discussões para os lugares onde temos responsabilidades”, afirmou Stedile. O dirigente do MST contou que o SESC foi uma antiga fábrica de tambores que se transformou em centro cultural. A obra, inaugurada em 1982, foi projetada por Lina Bo Bardi, arquiteta que foi membro do Partido Comunista da Itália e participou da Resistência na Segunda Guerra Mundial.
Sobre a conferência no SESC Pompeia, Juliane Furno afirmou que foi “um encontro importante tanto para o diagnóstico quanto para pensar saídas para o Sul Global”, e Stedile complementou: “Passaram dois ministros do Brasil e, entre os participantes, há vários ex-ministros, pelo menos da Argentina, da Brasil, da Venezuela e de outros países, e espero que algum dia essas propostas voltem a ocupar lugares de decisão.”
No entanto, ambos destacaram que boas propostas não valem de nada sem força política organizada. “Só com força social podemos sonhar em transformar nossas propostas em realidade”, acrescentou Furno.
João Pedro Stedile também expôs os principais pontos da agenda econômica para a transformação, com base nas propostas debatidas e apresentadas durante a conferência:
políticas econômicas alinhadas com as necessidades humanas e o respeito à natureza;
superação das desigualdades e promoção de um desenvolvimento não dependente;
estratégia de desenvolvimento integral;
condições de trabalho e de produção para um novo modelo de industrialização;
soberania sobre os bens da natureza;
soberania digital e infraestrutura tecnológica;
integração de novos parceiros e sistemas comerciais no Sul Global;
nova arquitetura financeira;
política fiscal e monetária coerente.
“A extrema direita acelerou essa mudança de época. O velho mundo está em decomposição e é necessário elaborar um conjunto de diagnósticos para compreender esse cenário”, afirmou Furno. Por isso, torna-se urgente encontrar soluções.
A janela histórica
Um dos objetivos da Conferência foi reunir uma coletividade para pensar alternativas concretas diante da situação real e urgente de um conjunto de crises, cujo eixo dinamizador são as sucessivas crises do capitalismo. Por outro lado, também se buscou mostrar que existem alternativas reais e concretas diante do processo de deterioração da vida que está em curso.
“Há, mais uma vez, uma ameaça do imperialismo estadunidense — seja pelo declínio da economia norte-americana, seja no campo militar, seja no campo monetário, com as possibilidades de desdolarização. Assim como na década de 1970, o imperialismo, quando se sente acuado, não joga na defensiva, mas parte para o ataque. Isso é uma constatação de sua decadência e de sua tentativa de retomar o protagonismo”, explicou Juliane Furno.
“Precisamos aproveitar essa janela histórica, com o agravamento das tensões, para fortalecer nossos processos de integração e polarizar com alternativas mais radicalizadas, que busquem tirar os países da periferia e do subdesenvolvimento”, afirmou a militante do Movimento Brasil Popular.
Nessa mesma linha, João Pedro Stedile declarou: “Estamos em um período de mudança de época. O sistema capitalista fracassou, e vamos passar para outro sistema que ainda não sabemos qual será. Nosso futuro não virá do Norte, mas sim do povo organizado”.
“Precisamos articular a necessidade de voltar a ter um projeto nacional e internacional que coloque a vida no centro — e não a acumulação capitalista. Mas, ao mesmo tempo, aqueles que carregam a utopia precisam ser capazes de mediar e construir propostas concretas para tirar a classe trabalhadora da crise atual do capitalismo”, disse Juliane Furno.
Enfatizando a oportunidade histórica neste contexto, Stedile encerrou sua fala dizendo: “Precisamos tentar construir um novo modelo de desenvolvimento popular. Não importa o rótulo — o que importa é desenvolver ideias e debates que superem o capitalismo, o patriarcado, o racismo, o colonialismo, o latifúndio — porque, para tentar construir alternativas, não há outro caminho senão tendo o socialismo como horizonte”.